quinta-feira, junho 30, 2005

Minha poesia nunca é jogada fora
Mesmo que os papéis não existam mais.

A memória não é feita de bloquinhos rosas, ou de papéis banais. Minha memória é feita de cheiros que estão impregnados nos meus dedos, de cores que sei que não sairão de minhas roupas, de doses de bebidas quentes, de uma vida que passou e está cravada em mim. Agora, sei que não importa do que me desfaça, as lembranças sempre estarão presentes. Só me resta não acordar nas madrugadas com os olhos cheios de lágrimas, e conseguir levantar sem pensar. Resta não ficar angustiada ao ouvir nomes e vozes, ao ver passos e jeitos de andar. Porque esquecer, ah! esquecer, já desisti. Não importa quantas vezes eu remova as fotos dos meus arquivos, quantas vezes retire sua mão do meu ombro ou em quantas frestas eu não enxergue. O café da manhã na padaria, o filme bom no Cine Brasília, o vinho tinto, o parque, o aniversário, a Adélia, o caminho longo até minha casa nas manhãs de sexta, o copo d'água em cima da tevê, o origami, Porto Alegre, a rodoviária, o bar às 3 da tarde todos os dias... nada disso está guardado em papéis e blocos de anotação. Nada disto está cravado em árvores - vivas ou mortas. A minha memória não é jogada fora, pois as coisas já estão em mim.

Só me resta fazê-las não doer.
E agora que tou me formando e não tenho emprego?
Disseram-me que ando abatida.

Com olheiras mais fortes
e bem magra.

No final, devo estar mesmo.
Sobre as pessoas e as dádivas

Traição é exatamente quando não reconhecemos um ser como pessoa. É não nos darmos o trabalho de não ferir, ou ao menos, pedir desculpas.
Traição é desconhecer moralmente um outro ser humano, destintuindo sua capacidade de ser respeitado.
Traição é desconhecer a capacidade de se reconhecer no outro.

quarta-feira, junho 29, 2005

Precisa-se:

de um cérebro novo.

segunda-feira, junho 27, 2005

Eu sou um risco na parede.

sábado, junho 25, 2005

Meu amor é a mordida na mão
e a lambida no dedo.
Dos meus amores

João

João foi um amor estranho. Um amor que abandonei com certo medo. Um amor que eu fui embora, para não me machucar. Acho que eu tive até razão de ir-me embora. Mas não é isso que vem ao caso. Eu tenho péssima memória, mas lembro de boas coisas desse amor. Lembro de Truffaut e Lynch. História Real. Correr da chuva no parque. Meu mau humor ao estar embaixo da chuva. Ele me dizendo que ficava bem bonita com o cabelo molhado, embaixo do toldo do parquinho. Foi um amor tão rápido. Às vezes, mas só às vezes, acho que não deveria ter fugido. Mas o tempo passou, muito tempo. E hoje, a gente mal se esbarra em festinhas surreais em subsolos sujos na cidade. É uma pena que tenhamos nos perdido, mas, para falar a verdade, nem sinto tanta falta. João foi um amor gostoso, de pouco tempo. Singelo. Foi um poema bonito pendurado na minha parede.


Eduardo

Eduardo foi um amor longo. E complicado. Truncado, bem truncado, no começo. Uma história dentro de outra história. Por minha parte. Um amor bem triste, uma distância enorme entre seres. Porém, foi um amor duradouro. Um amor compartilhado. Um apoio atrás de outro. Conquistas mútuas. Foi um amor tranquilo, algumas vezes. Cinema, música, videogame. Coisa de gente caseira. Muitas lágrimas de cinema seguradas nos filmes de guerra. Programas leves, nada de muita poesia escrita. Foi um amor compartilhado pelo olhar e pelas mãos. O andar cada dia um passo. Até que tropeçamos e o tempo fez o trabalho de desgastar. Ainda tentamos nos reeguer, mas os tropeços foram só acontecendo cada vez mais próximos. Até que um de nós caiu, e não quis levantar. Foi um amor longo,bom, cheio de fases, cheio de altruísmo. E olhe que eu não sou nada altruísta. Foram anos de fotos de nós dois no meu mural.


Guilherme

Guilherme foi meu amor mais recente. Foi um amor relativamente curto no tempo, mas intenso no brilho. Foi pouco cinema, mas muita, muita música. Foi samba do mais triste ao mais alegre. Foi de Cartola à Dicró. Foi amor de centro urbano e de periferia. Foi amor de submundo e de torre de tevê. Foi amor de inteligências complementares, de risos soltos no meio da noite. Foi um amor que era para sempre, um amor Cecília, Clarice e Adélia. Guilherme foi um amor de Câmara dos Deputados. De Porto Alegre. De Ceilândia, Cruzeiro, Asa Norte e Asa Sul. Guilherme foi um amor flutuante, saudoso, espalhado para o mundo em gritos poéticos. Guilherme foi e-mails, telefonemas, mensagens, carinhos. Foi o não me conter em mim e transbordar. E ter meu transbordar amparado pelo carinho, e pelo espelho. Pelo chuveiro frio. Pelo pão com ovo mexido. Foi o vinho tinto em noite fria, absurdamente fria. Foi as pulseiras que retirou, os colares que eu usei. O meu pé machucado e olhar de dó ao vê-lo com todo aquele esparadrapo. Guilherme foi cerveja em dia de calor. Poesia declarada para todos os cantos do mundo.

terça-feira, junho 21, 2005

segunda-feira, junho 20, 2005

Cinema-não-ficção-III?

Janaína é uma menina dessas bem solitárias. Sempre foi. Ela não observa nada, sempre está completamente por fora dos detalhes. Não tem amigos, nem inimigos. Não consegue se aproximar das pessoas, e não gosta de segundas-feiras. Adora tomar café e ver filme, mas há muito não vai ao cinema, por medo de chorar de frio sozinha. Ela anda de casacos sempre, agora, embora sinta um calor danado. Janaína sabe cozinhar, mas anda tão triste que erra sempre a dose do sal.
Janaína fez um mural com o amor que sentia e foi obrigada a tirá-lo da parede assim que pendurou. E isso faz com que ela sinta dor. Eu sempre encontro Janaína com os olhos cheios de lágrimas e com o coração batendo forte. Ela é uma menina que eu diria ser sensacional, assim como Gabriela. Mas elas são tão diferentes. Gabriela tem alguém para confortá-la. Ah, sim, tem. Tem poruqe merece. Janaína também merece. Mas não quer outro alguém. Se nega a querer outro alguém. Janaína é dessas que tem o nome mais bonito e o olhar mais carinhoso, mas que muita gente tem medo de estar. Janaína deve ser uma idiota, mas eu não acho. Gosto dela, até.

Janaína pensa tanto sobre o amor que me cansa.

"veja bem além desses fatos vis, saiba traições são bem mais sutis. se te troquei, não foi por maldade, amor, veja bem, arranjei alguém chamado saudade."
Cinema-não-ficção-II?

Paulo é um garoto estranho. É desses que entra fácil na vida dos outros, e quando sai leva pedaços enormes, mosntruosos junto com ele. Ele ama muita gente, muita mesmo. Mas, às vezes, negligencia as pessoas que ama. Paulo é assim. Bebe conhaque, mesmo sabendo que o gosto é péssimo e topa qualquer programa idiota, desde que em boa companhia. Come na frente do conic e bebe vinho em show de sindicato. Paulo mora numa casa bonita, com o jardim mais bem feito que já conheci. Ele que plantou todas as flores, e se orgulha de seu pinheiro que já deu seu primeiro pinho. Paulo rouba mudas de plantas que acha bonita de qualquer lugar. Desde o canteiro de sua cidade, até o canteiro da igreja mais bonita. Ele sabe que se deus existe, gosta de flores. O melhor presente que já ganhei de Paulo foi um origami. Ninguém nunca tinha entendido o que eram aquelas dobraduras tortuosas, mas eu vi, no primeiro instante que era uma vitória-régia. Eu adoro vitórias-régia. Paulo é outro que se perdeu de mim em um desencontro. Mas foi um desencontro mais ou menos criado. Paulo se foi, e eu me perdi. Mas quem nunca se perdeu? Paulo é um garoto estranho. Ama muito, muito mesmo. E é dono do amor mais bonito que já vi. Mas ele nunca se entrega. Talvez, tenha medo de se perder de novo, por um amor tão bonito quanto o seu.
Cinema-não-ficção?

Gabriela é uma das meninas mais sensacionais que já conheci. Ela escreve os poemas mais bonitos, e tem os pensamentos mais filosóficos. Ela tem um quê de centro urbano, mas ao mesmo tempo de periferia que só ela tem. Gabriela não se perde em outros, porque, mesmo ao se deixar levar, reconstrói-se sempre. Ela levanta, e é por isso que é bela. Ela sempre levantou. Gabriela tem os olhos solitários, mas sabe que a solidão dela é coisa passageira. Pois ela fica feliz e comemora os aniversários da sua felicidade. Ela, ao contrário de mim, tem pouco medo de perder. Porque nunca, nunca, deixa de ter esse brilho nos olhos.

Eu e Gabriela nos perdemos nos desencontros da vida, e desaparecemos dos horizontes uma da outra. É uma pena mesmo. Já que Gabriela é uma das pessoas mais fenomenais que já conheci.
Após o médio abandono deste blog, eu retorno. Volto porque é minha casa, meu lar, meu ser aqui. É minha evolução e retrocesso, meu riso e minha dor. É aqui que cresci, que vivi, que amei, que odiei, que desandei. É para cá que retorno, pois este, e não aquele, é o lar da solidão.

Volto depois de muitos altos e baixos, depois de muitas mudanças. Vai demorar um pouco par ame reestabelecer, para deixar tudo em ordem por aqui, para colocar todos os móveis em seus devidos lugares, mas eu volto com o coração aberto para minha velha casa.

segunda-feira, junho 13, 2005

"O que te sobra além das coisas casuais?"
O que faço
quando vejo-me perdida
sem um abraço?