quarta-feira, setembro 16, 2020
Sobre responsabilidades (dia de Saturno)
O grito ríspido ainda ecoa em meus ouvidos, seguido por um pedido pequeno de desculpas de que sabe que o endereçamento foi equivocado. No momento, raiva e medo criaram uma nuvem e essa, antes de se dissipar, não permitiu que a clareza dos pensamentos fossem vistos. Às vezes, é preciso que outro tome decisões por nós porque o mundo palpável nos escapa.
Encobertas pelo véu tecido pela tristeza, pelos traumas, pelas dores incomunicáveis, essas tramas finas impedem que vejamos as curvas sinuosas à frente. É preciso que alguém levante a luminária — de óleo, com velas, de fogo — para que seja possível enxergar que algo começa também quando a reta termina, e que as curvas podem continuar pela eternidade. Mas, que o guia, os guias, as lamparinas também poderão permanecer — desde que cuidemos delas. Que alimentemos com o combustível vital.
Para isso, é preciso reconhecer que o grito dado nem sempre foi direcionado corretamente. E que aquele que se coloca entre o eu e o mundo pode saber e dominar outros aspectos que são ignorados solenemente na impressão de que há controle. Não há controle. Nem sempre há controle.
Podemos ser obrigados a vomitar as pedras que nos engasgam e, com elas, os frutos e os filhos da nossa existência. Regurgitamos porque não há controle sobre o estômago, o abdômen, o diafragma. E faz-se novamente o tempo — o que segue, o que passa e o que diz qual coisa deveria estar em outro lugar. Deveria eu estar em outro lugar?
O que virá também não está dado. O que foi, aconteceu. Recusamos o passado quando não nos aparece como queríamos que ele tivesse sido erguido. E destruímos o castelo das memórias até que sobrem ruínas. Mas, as ruínas estarão lá. E, poderemos, poderei, ver sua mão após a neblina? Quando as cortinas de nuvens densas se fecharem, seremos capazes de nos enxergar novamente? Serei capaz de me ver como de fato sou?
"Here I am, pry me open
What do you want to know?
I’m just a kid who grew up scared enough
To hold the door shut
And bury my innocence
But here’s a map, here’s a shovel
Here’s my Achilles’ heel
I’m all in, palms out
I’m at your mercy now and I’m ready to begin
I am strong, I am strong, I am strong enough to let you in."
No play: Sleeping at last — eight. https://www.youtube.com/watch?v=K99i5GF65to&list=RDMMXwnPFg3JBFU&index=6
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