sábado, agosto 31, 2002

Estou com raiva, muita raiva. Pos isso, leiam o post - que é imenso.
Será que minha mãe vai distorcer minhas palavras até eu morrer? Desse jeito eu morro logo, logo... ela vai achar é bom. *começo a entender o motivo de tanta contrariedade, ela quer me matar, só pode*

Tá, a raiva começou por causa do filme Cidade de Deus, que estreou aqui em Brasília ontem. Ela foi assistir na estréia, como se fosse uma boa cinéfila, e eu fui assistir hoje, como boa pobre.
Vamos falar agora o porque do choque entre as duas gerações: eu e ela.

Ela:
- é espírita e por isso acredita em reencarnação. Isto supõe que as pessoas antes de nascer escolhem o que querem ser e como querem ser, normalmente como presente por ser boazinha na vida passada, ou um castigo por ter sido malvadona.
- acredita que o sistema capitalista não é ruim, mesmo que exista exploração, desemprego, etc, etc, etc.
- não acredita que o sistema capitalista gere marginais. As pessoas são pobres pq querem, as pessoas são ricas pq querem. Quem é pobre não se torna nunca bandido pq não tem o que comer, afinal, todo mundo tem escolhas, mesmo que não no reino dos céus. Na Cidade de Deus, quem é bandido é pq é vagabundo. O movimento dos sem terra é repleto de um bando de gente que não quer trabalhar.
- fala de socialismo como se fosse um sistema onde só tem gente pobre trabalhando na fazenda em um esquema idade da pedra.
- não aceita que o capitalismo construa as mentalidades ambiociosas e corruptas. Tudo é uma questão de índole pessoal, então quem rouba galinha pra come rno jantar, podia criar galinha - não importa como ele iria conseguir essas galinhas.
- acredita que existem várias formas de conseguir renda que não seja empregado.
- acredita em mobilidade social.
- cai no papo mixuruca dos países da Europa Ocidental que se dizem socialistas, mas na verdade são capitalistas escrotõs social-democratas.

Eu:
- não consigo entender como ela acredita em mobilidade social como algo tão fácil de ser atingido. Três entre 1 milhão de pessoas conseguem mudar de status social, sendo que uma delas casa com uma outra pessoa rica, uma ganha na mega sena, e o outro é o Sílvio Santos - uma das únicas peças raras que conseguiram ganhar dinheiro e encherem a pança trabalhando.
- me guio por uma perspectiva marxista.
- acho justificável que pobres se tornem bandidos por causa de sua situação de miséria e exclusão. Quem não tem o que comer precisa de uam forma de se sustentar, e o roubo e o tráfico são mais fáceis de entrar do que em um emprego. Além do que, o sálário de um pobre não sustenta nem um dos filhos, e a solução não é terem menos filhos.
- não entendo como ela acha justo que uma pessoa ganhe 30 mil reais e ela mil. E não entendo mesmo ela achar que a miséria é escolha e justificável.
- não compreendo como ironiza as pessoas sem tentar entender o que elas dizem. É impossível criticar algo que ela acha certo pq ela começa a distorcer TUDO o que vc tá dizendo. Um exemplo é: pobre virar bandido é uma alternativa pra conseguir se adaptar à sociedade que vive. Ou vc tem dinheiro ou morre. E ela: isso quer dizer que todo pobre tem que virar bandido? Vc defende algo que não é certo.
- não entendo como uma pessoa formada em história pode ser tão dominada pela ideologia da classe burguesa. Como diria uma frase que uma amiga me disse: a classe média defende o capitalismo sem ganhar nada em troca.
- acho incrível como ela acha que é tudo uma escolha. Vc nasceu pobre pq quis, o outro rico pq quis e trabalhou mais. Quem ganha 80 reais merece.

Deu pra entender porque nos desentendemos? Acho que sim. Nós somos dois pólos opostos, mas não nos atraímos.

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