- Só espero que eu não tenha te perdido assim, querida. - disse enquanto seu dedo escorria suavemente pela borda do copo.
- Não se pode perder o que nunca se teve, não é verdade? - e a voz áspera nunca havia sido tão brusca... Em uma tarde fria, o que ela esperava era um beijo, não o escarro. Mas foi o que teve. E o que mereceu. Sempre mereceu.
- Mas, linda, o que houve com o "nós"? Com o amor... Lembra? O amor? Os eu-te-amos incontáveis em banheiros de qualquer lugar, as dores infinitas afagadas sempre em nossos peitos? O que houve com o nós, com o para sempre?
- Você, que sempre amou o efêmero, arrepende-se rápido de ser o que é. Nunca houve "nós"! E o amor, se foi, junto à neblina, devanesceu! Nunca houve mais que beijos tardios, toques vazios. Você, que amou como se nunca fosse perder, apostou tudo em um jogo imbecil e falhou! Acabou! A-c-a-b-o-u!
E agora, segurando o copo com força agora, e com a mesma força, segurava as lágrimas que não iam cair desta vez, não desta vez!, levantou-se e pegou a bolsa preta jogada no chão, esparramada, como se a intimidade fosse o bastante para mostrar tudo, os segredos que se escondem em pequenos papéis, e todas as poesias que trazia e foram arrebentadas pela deilusão ficaram ali, enquanto pegava a bolsa o com uma mão e via o líquido amarelado com os olhos foscos dentro do copo, segurado coma mais densa dor para não cair. E se caísse, sabia, que seria a última gota para que pulasse fora dali sem nunca mais voltar.
- Volto mais tarde.
- Deixe o copo. Você já bebeu demais.
- Volto mais tarde! Para pegar minhas coisas. O resto delas. E o resto de mim.
E não precisava voltar, não tinha nada ali que fosse seu. Mas voltaria. Ah, sim! voltaria, para dizer a verdade, que o amor é sempre efêmero, e que o abandono é sempre certo. E que desse vez, não era ela que estava indo embora, mas sendo abandonada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário