O vento balançava as folhas bem verdes da árvore. De longe, um som bonito vinha: alguém treinava jazz num saxofone.
Algumas folhas caíram. As velhinhas se surpreenderam com o cheiro bom de grama e folhas molhadas. Uma criança tocou o orvalho. E a cena deveria ter sido gravada. O céu nublado, o vento frio, o cheiro de chuva, a nostalgia. Eu ouvia o jazz tocado. As árvores pareciam mais bonitas do que da última vez. Daqui uns dias darão flores brancas. E será primavera. Da parada de ônibus, com duas velhas ao meu lado, eu só pensava no ritmo. E a lágrima escorreu e ficou presa no aro do meu óculos. Embaçou minha vista. O som permaneceu límpido. Eu fiz meus dedos dançarem por cima da perna. Senti o gosto da nostalgia de que uma outra mão segurasse a minha. Era jazz. Jazz, dia nublado, folhas verdes. Tudo era nostalgia: e meus olhos cheios d'água. Não ouvia mais vozes de nenhuma companhia. Ali, existia eu, o saxofone, as árvores, o cheiro de chuva e a saudade de um tempo que nunca existiu. Restava eu e a nostalgia.
Cantarolei baixinho: "Is it a crime
Is it a crime
that I still want you
and I want you to want me too..."
E eu rememorava meus passos de solidão. Há muito não fitava aquelas barrigudas com copas grandes.
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