quarta-feira, julho 28, 2021
Luto
Pra continuar existindo por 2 dias, minha mãe teve que ser ligada a uma máquina de morfina contínua. Ela não morreu sem ar, mas morreu com a respiração profunda, o ronco da morte, ecoando no quarto. Ao ouvir qualquer notícia sobre Manaus, eu ouço aquele som.
É inconfundível. Daqueles sons que você não precisa pensar que vai existir ou conhecer como será. Porque você ouve. É simplesmente sabe. Sabe. No. Ato. Se a minha dor não se cura, se eu não esqueço nem um minuto dos últimos dias dela, ou do último dia…
(Eu estava lá no último suspiro), imagino o de centenas de pessoas presas a um medicamento e que suas filhas ouvirão seus últimos sons. E estarão destruídas, como eu.
Nenhum comentário:
Postar um comentário