quarta-feira, julho 28, 2021

Vênus

enxergo a mim nos limites do seu corpo. receio nunca mais ver seus olhos. enxergo todos os detalhes, portanto. vejo você refletido em mim pelas lentes da memória — vaga, se apaga, confusa, retorna. escuto nas músicas partilhadas o som da sua voz. a minha voz tenta emular o que conversamos, tenta re-falar o falado. escuto você em mim pelas palavras jogadas como se ao vento fossem — mas devidamente ouvidas, sentidas, ressonantes. toco em você ao tocar em mim. sinto com a ponta dos dedos as suas dores que também são as minhas. encosto nos recados colados nos espelhos e tateio a saudade que não deveria existir. sinto, como se você fosse eu — porém que toque será esse se não puder se materializar? o gosto de sal do dia trabalhado está nas papilas gustativas que apagam qualquer vestígio de um nós que existia somente no café. preto. amargo. salgado, agora. quem sabe o gosto se transforma com o tempo? (angústia de separação de mim mesma)

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