quarta-feira, julho 28, 2021
sente aqui ao meu lado. encosta seu braço no meu, toque de leve seu dedo em minha coxa. fique em silêncio, pode deixar que o tempo falará por você. olhe para o lado, assim, sem graça, desvie o olhar. quero te ver chorar, quero te ver por inteiro. não quero te ver chorar, não quero fazer sofrer. duvide, saia, retorne. encoste aqui seu pé no meu enquanto deitamos no chão para refrescar.
sente aqui ao meu lado. ouça as palavras que eu preciso dizer. preciso? impreciso. encoste de leve seu nariz na minha nuca enquanto lavo a louça. ria, eu sou desastrada, pegue o copo da minha mão, pode deixar que eu encontro o algodão para o sangue estancar. deixe sangrar. deixe eu cuidar desse machucado. deixe eu curar essas dores. deixe doer. em quem doer.
sente aqui ao meu lado, encosta seu cheiro no meu. toque de leve meu rosto molhado. deixe que eu seguro minhas lágrimas. não segure as suas. transborde. deixe a tempestade surgir. brote após dois intensos dias de chuva. deixe-se sentir meu cheiro. nosso cheiro. cheiro de terra vermelha que não absorve o que não é para si.
sente à minha frente. encoste seu nariz no meu. peça desculpas. peça para ir. peça para voltar. e vá. talvez, quem sabe, volte. voltar para onde? deixe que a tristeza invada. o seu ser, o meu ser. encoste seus lábios em minhas dores, sinta o gosto salgado que escorre pelos meus poros. deixe eu verter em lágrimas e suor, deixe que eu transborde.
não sente mais ao meu lado. levante-se. deixe rufar os tambores. ponha-se de pé. chega o momento da guerra. deixa que eu fico aqui. peça para ir, vá para lutar. volte ou não volte. caminhe com calma, mas com firmeza nos passos. pressinta e decida. e lembre-se: não há território aqui a conquistar.
(no play: "deixa, se me ama me deixa, amar também é largar" — Dandara Manoela, Transbordar).
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