segunda-feira, maio 09, 2022

Dos silêncios

o som do seu silêncio ressoa nas omissões de dados, fatos, informações fundamentais para que meu caminhar fosse seguir a mesma trilha que você. cortando galhos diferentes e tropeçando aqui e acolá porque caminhar junto não é caminhar igual. o som do seu silêncio preenche e transborda todos os quartos que nos acolheram e todas as casas pelas quais passamos e preenche cada espaço que as palavras não ditas deveriam ocupar. eu sinto a sua angústia de longe, sei que seus dedos quase tocam os meus, mas esperam eu esticar meu braço sem que voce peça, sem que você também abra pelo menos as mãos. eu escuto agora suas lágrimas caírem aos poucos e mancharem o lençol, a toalha, a blusa, a minha blusa. a lágrima é vermelho sangue e mancha tudo o que toca. e eu escuto as lágrimas e entendo em que momento em que o silêncio era melhor que a fala porque a fala foi trágica demais e o chão já estava pronto para desmoronar. eu segurei a tristeza que jorrava do seu pescoço e reafirmei meus valores e admiti meus erros e entendi o que estava engasgado na sua garganta. mas não antes de ser contaminada pelo caos que ali estava entalado, mas não antes de sua vida estar pendurada em um fio de teia de aranha. (eu teci a teia mesmo sem querer presas. acabei eu esquecendo onde poderia pisar.)