domingo, abril 11, 2004

dores para as dores

Mesmo que eu dissesse adeus para o mundo inteiro, seria como novela, e todos os olhos saberiam que eu nunca conseguiria sumir. Seria um final predito, algo que se assiste só pelo vício de assistir. Mesmo que eu inventasse mil estórias, e fizesse com que as pessoas participassem delas, é um fato que logo desistiriam de mim, e eu desistiria de mim e de inventar. E se eu desse adeus e corresse para pegar o primeiro trem para o fim do mundo, ficaria decepcionada comigo mesma por não conseguir terminar com nada. E ser terminada, excluída, deterioada por tudo. Minhas mãos começam a ter cor de ferrugem, mas ninguém olha, e eu não olho. Eu cubro os espelhos com panos para não me ver envelhecer. Estou tão podre e velha quanto o retrato de Dorian Gray, mas não tenho forças para rasgar minha própria face. Se eu conseguisse dizer adeus, ah!, se eu pudesse, estaria há quilômetros de mim mesma, e minhas pernas seriam tão fortes, tão fortes, que caminharia por anos e nunca descansaria.

Mesmo que eu dissesse adeus ao mundo inteiro, não poderia me livrar das amarras invisíveis que me seguram a mim mesma. Como Werther, vejo as limitações, mas a morte não é suficiente para me livrar delas.

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