segunda-feira, agosto 31, 2020

Saudades

a lágrima, a garganta, a falta. marcam no calendário dois anos. 24 meses sem sua presença. te queria aqui. ainda que fosse para só mais um único café da tarde.

sexta-feira, agosto 28, 2020

Aniversário de namoro

As violências nos destroem de maneiras inimagináveis. Alguns pequenos gestos são ignoráveis. A gente deixa acontecer porque as demandas do mundo se sobrepõem. Porque sabemos que a violência vem de todos os lados. Ignorar é tentar manter-se sã. Depois, as feridas passam a abrir. E questionamos por que, em vez de pomada cicatrizante, antissépticos, mertiolate, a gente passa limão. Com sal. E elas se abrem ainda mais. E a gente arruma justificativas. Somos humanos, erramos, quem não erra? E a ferida não fecha. E vem o primeiro murro. E o primeiro roxo. E aí, as portas quebradas e a vida destroçada pelas entranhas. Parece que o mundo puxou de dentro o intestino e rasgou pela garganta. O sentimento é a vergonha. Depois, a gente tenta se ajustar como dá. Mede daqui, esconde dali, fala com ressalvas. Mas algumas coisas continuam: o afeto, o apoio, manter-se junto. Sempre. Promessas. Falácias contadas como quem debulha o milho. Um por um e, ao mesmo tempo, aos montes. O sentimento? A culpa. Nesse ponto, não tem mais volta, senhoras. Ignorar já não existe. Porque os gritos ecoam na esperança que a pessoa te ouça. Não é que alguém ouça. Aquela pessoa. Aquele sujeito. Aquele ser. Porque quer-se ser junto. Ainda. Mas não tem mais volta. No ar, a dúvida. E o caminho permanece tortuoso. Será que é inadequada? Será que não acerta? Quem se é no mundo senão o sujeito que não serve nem pra ser objeto. Abjeto. Não serve nem pra ser desprezível. O fim? Não se sabe. A dor caminha. A violência. A descrença em si. O não perdão. O que quer, fica bem claro, é que não se tenha ninguém, porque o outro não tem ninguém. A condição é a violência. A violência dilacera em pedaços que não sabíamos ser possível. Porque ela é a regra. É a medida. Do outro para ela. E de ela para o mundo. Nada será mais como podia ser.

quarta-feira, agosto 26, 2020

Dia de mercúrio

caminhar implica em arquitetar e decidir. como me estendo a tal ponto de ficar em pé? em que seguro para não desequilibrar? a perna direita primeiro? ou a esquerda? se pisar com a ponta do pé, quem vai ouvir? eu vou cair? traçar caminhos implica em pequenos atos de coordenação fina: pegar o papel (imaginário, até) e mapear os pequenos pontos. retomar na memória os passos já dados. ter em si e desenhar o que virá. abrir caminhos implica em colocar em ação o decidido, o pensado, o calculado. abrir caminhos é ter a força de ceifar o mato, trilhar o chão de terra batida. rastelar o que ficou para se ter melhor noção do que se fez. caminhar implica em decidir o movimento. e movimentar é saber que não se está preso. (eu precisei transformar dor em força e ódio em movimento).

quarta-feira, agosto 19, 2020

o sol que não se esconde nas nuvens

e encontra-se quando ilumina outrem. sabe que conseguir que a luz toque as sombras não pode fazer com que perca seu próprio brilho.

terça-feira, agosto 11, 2020

os dizeres que não precisam ser ditos

quando eu decidir ir embora, com que cores pretas pintarei o horizonte? quando eu decidir ficar, quem rirá de mim?