quarta-feira, agosto 10, 2005

O telefone tocou. Janaína, despida, atendeu com calma o telefone que há muito não tocava. Era Izolita.

Dei-me conta hoje, Janaína, que meu nome e minha vida são, de fato, sinônimos. Minha mãe escolheu o nome certo. Ambos são solidão.
E você, como anda?

Sabe, Izolita, eu já não tenho certeza. Há meia hora, antes de entrar no banho, tive certeza de que tudo que queria na minha vida era estabilidade, um amor tranquilo, uma companhia para apaziguar minha dor. Agora, nesse exato momento, ao ouvir sua voz, a única coisa que me consolaria seria sentar em um bar, com uma pessoa desconhecida e ter uma conversa legal. Uma conversa na qual nem meu corpo, nem meu rosto, nem meu cabelo, nem minha idade, ou anos de estudo, ou qualquer coisa relacionada ao meu desemprego, apareceriam. Seria só eu, a pessoa desconhecida e poesia. E passaríamos uma noite agradável, e quando terminasse, seríamos só amigos. Não haveria beijo, nem nada. Uma mensagem no outro dia, um bom dia, como vai. Coisa de gente que se importa. Ouvindo sua voz, Izolita, notei que a minha cabeça pode parar de tocar essas vozes de pessoas que mal me conhecem e me ignoram nas mesas de bar. Sabe, querida, queria uma noite amena, mas não tem ninguém desconhecido para conhecer.

E a solidão?

Não há solidão, Izolita. Não há. Nem vazio, nem solidão, nem vontade, nem lágrima ou riso. Um tipo de garden state.

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