segunda-feira, julho 27, 2020

pausas

se todas as palavras fossem uma só, seriam tempestade. o que vejo no horizonte é a tempestade gerada e gestada dentro de mim. criei, com cores pesadas e brutas, um céu que destoa do brasiliense nessa época do ano. exagerei nas cores, transbordei na água da tintura e com toques de algodão sequei o azul escuro que se mancha e suavemente clareia chegando à borda do infinito onde ainda enxergo. se todas as palavras fossem uma, seriam solidão? deixo pairar a dúvida. para que seja possível respirar com menos dor, que a existência possa dar-se pausas para sentir e para o pensar. deixo a dúvida porque não há mundo sem ela, porque a certeza fecha, por vezes, mais portas do que abre. deixo a dúvida porque encontro caminhos há tempos para que escoem as águas das minhas tempestades. essas, que aparecem agora na tentativa de me amedrontar. caminho. olhos ainda límpidos. semblante preocupado, afinal, vem a chuva para lavar o rosto, mas que corre sempre o risco de alagar meus espaços e ceder, de novo, à solidão. hoje ainda não é dia de desabrochar. há águas porvir. devir.

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