quarta-feira, julho 28, 2021

Quando minha mãe morreu

Quando minha mãe morreu, eu também morri. Morreu um eu e nenhum novo eu nasceu. Quando minha mãe morreu, morreu a filha. Mas não nasceu outra mãe, outra filha, outro ser. Não completei minha jornada, não deixei nada pra trás, não nasci de novo, não dei mais valor à vida. Só morri. Eu não morri porque vi a morte de perto. Mas por saber que nunca mais existirei no mesmo ar, no mesmo tempo. Nunca mais a existência será território conhecido, será território nosso. Eu me desterrei, eu fui desterrada. Desterritorializada. Eu morri porque ouvi e porque vi. Morri porque ela morreu e eu vi e eu estava lá. E, se faz algum sentido, continuo viva, apesar de ter morrido. Em 2018, eu morri. Eu 2019, eu matei. Em 2020, morri de novo. Espero, algum dia, nascer.

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