quinta-feira, novembro 21, 2002

Por muito tempo eu quis ser uma pessoa referência de textos e nunca fui.
Essa garota que tem sorte. Texto bonito, desejo profundo.

Camus disse que amar é simplesmente ele gostar dela, e ela dele. Mas a questão não se responde somente aí, sabemos bem. Lembrava-me disto quando olhava a cidade estática e luzidia, dum ponto alto e afastado da cidade. Tinha o estômago embrulhado por tanto fumar e tentava reconstituir-me para sete garrafas de vinho que vinham salvar tão enfadonha noite. Chegavam as bebidas, estava confuso entre um pouco de fumaça que cordialmente ardia-me os olhos, como que para lembrar-me de uma tal menina, em ponto oposto da cidade. Longe.


Uma mão no meu joelho; talvez? Sim. Era mais velha e ruiva, estudante de jornalismo. Conversamos, ela lia Sartre. Falei de Albert para ela, e do desejo de não sentir, pelo qual Nick Drake - que ela não conhece, mas gosta de Jethro Tull - suicidou-se. E nós falamos muito, estava frio e ventoso e demo-nos as mãos. Ela disse que minha linha do amor, ao contrário da sua, era longa o bastante para poder-se inferir quão breve acherei o amor de minha vida. Mas sua linha serviu ao propósito, essa noite ao menos, não? - disse, tendo por ela a barba rala alisada e os cabelos desgrenhados por seus dedos finos, cujas unhas eram pintadas dum esmalte levemente rosa, com pontinhos purpurinados que atiçavam em mim a vontade de voltar a seu pescoço, timidamente perfumado. E antes de tudo isso, foi ela quem roubou-me o primeiro beijo.

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