domingo, fevereiro 01, 2004

Querido,

desculpe-me pela demora das cartas. Ando sem querer escrever. Poderia inventar alguma desculpa, como a falta de papel, mas eu poderia escrever no cantinhos de outras cartas - aquelas para mim mesma - e mandar um pedaço de mim com um pedaço para você. Porém, meu amor, a mentira não compensa. Eu ando é cansada de tanta fadiga. E como eu pareço redundante: eu ando cansada do cansaço! Como um bicho-preguiça que demora anos para se mexer no galho da árvore. Eu ando cansada do cansaço. E parada por ele!
Meu bem, eu não ando escrevendo muitas cartas. Acho que estou cansada da distância. Não de você, hoje não sinto que estás distante. Distância de mim! E não há tinta suficiente em meu tinteiro para escrever todas as letras que saem de meus pensamentos doloridos pela falta de mim. Eu, que antes colocava culpa da solidão nos outros, descobri que a única culpada sou eu mesma. Sinto como se tivesse sido mutilada por minhas próprias mãos.

Meu amor, vou dormir pensando em seus braços. Para esquecer a saudade, e a falta de mim!

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