sábado, julho 23, 2005

Sonhei com você e me doeu.
Sonhei que a lágrima já tinha secado e que seu abraço no espelho voltava a existir. E sonhei com Kundera, mas não com Karenin. Sonhei com empréstimos e devoluções, com desculpas e saudações. Sonhei que não era mais falsidade e hipocrisia tudo isso, e que eu conseguia esquecer o mundo, mesmo longe de tudo isto. E eu parava de gritar 'i'm sick and tired', pois já não era uma frase verdadeira. Eu já não sentia um presídio em minhas próprias memória e tudo se tornava leve. Ou seja, sonhei e o sonho foi bom. E exatamente o fato de ser bom é o que causa a dor. Embora não sinta mais angústia e meu estômago não se espatife a cada pensamento de você, a dor veio e devastou meu sono. Eu tenho olheiras maiores hoje e os leitos do rio de lágrimas de minha face há um tempo estão bastante secos. Eu não derramo sequer uma lágrima por nossa história ou por minha história. E eu já não sinto culpa e nem rejeição. Eu só vejo uma porção de coisas que as memórias não conseguem se desfazer. Eu vejo traição para todos os lados, onde você não quer ver. Eu vejo fuga de todos os sentimentos onde antes só havia carinho. E os carinhos que vejo que reconstrói são carinhos retomados de lugares que dizia serem inexistentes.
Eu sonhei com você e seu abraç no espelho não era falso e não era idiota e não era mentira. Eu sonhei e meu abraço em você, visto pelas lentes da minha aprendizagem, era um abraço de renovação. Você não me testava e eu não me entregava. Eu pedia o livro emprestado, e ia-me embora como um coração livre.
Ao acordar, lembrei que você tem os melhores cds de jazz que eu já pude escolher o repertório e que algumas músicas minhas estavam perdidas no seu armário.
Ao acordar, senti saudade, mas não vontade de ligar.
Eu tive ciúme de você. Hoje, vou ter ciúme de mim.

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