terça-feira, outubro 29, 2002

Se eu alguma vez tivesse tido tendências esquerdistas acho que estaria bastante decepcionada. Não penso que vamos ter uma esquerda moderada no governo. O que vai estar ali é uma esquerda adaptada, uma esquerda que abriu mão de si mesma para ganhar, uma esquerda-gambiarra.

Se eu tivesse votado no PT desde meu primeiro voto como a maioria dos que têm a minha idade hoje, se eu tivesse sido do grêmio da escola, do diretório acadêmico. Se eu tivesse ajudado a enfeitar as festinhas da "juventude" como muitos de meus amigos, hoje eu não estaria tão feliz.

Se eu não acredito na mudança? Claro que acredito! Já mudou! Mas o PT da minha adolescência lutava por uma mudança de baixo para cima. E isso eles chamavam de revolução.
Não sei como chamam mudar de um lado para o outro. E como será que chamam ficar no meio?



Eu tenho tendências esquerdistas. E concordo plenamente. Não dá pra mudar dentro de capitalismo.
Foi um grande passo pro Brasil. Mas um passo desesperado, que não se mostrou mais que medo de deixar a "oportunidade" passar do partido entrar no poder.
A situação pede urgência, mas a mudança não vem do Palácio do Planalto. Qual vai ser a posição do governo de 4 anos morando numa casa muito burguesa pra ele?
O que precisamos é revolução. Capitalismo humanitário é pura balela. Nenhum Mercado Internacional deixa uma esquerda governar se não for sobre seus moldes.
O que chamamos de "cumprir o acordado hoje" significa um retrocesso de uma luta partidária, política, social e ideológica que por muitos anos foi a nossa resistência popular.
O torneiro mecânico que está às portas do Palácio da Alvorada não me parece mais classe trabalhadora. Ele chegou onde está por conquista. Mas o final desta luta me parece uma venda. Venda dos nossos movimentos sociais que acreditaram mais do que na imagem de um operário-líder. Acreditaram na capacidade de um partido bem organizado conscientizar a população e trazer a massa unida para criarmos uma nova vida, um novo mundo, longe da exploração.
Que todos os PTistas de plantão me xinguem. Mas não fico feliz com um governo de empresários que se fingem de esquerda.
Não posso fugir dos rumos mundiais, a eleição. Mas igualdade e capitalismo não se misturam. Assim como esquerda/trabalhador não tem que defender o interesse do Capital.
Continuo sendo esquerda, mas esquerda de coração, de luta, de crítica. Sei o que a "social-democracia" pode trazer de benefícios pro país que mostra a maior desigualdade de renda do mundo. Mas também sei que a social-democracia não vira socialismo, por ser erguida sobre o solo do capital, do desenvolvimento deste capital, e pela não-distribuição da renda gerada.
Metade de mim parabeniza o PT. A outra metade repudia a atitude desesperada. Luta é luta até o fim. Nada foi ganho. Só perdemos um dos ícones da esperança nacional.
Meu voto foi Lula no segundo turno por ser menos pior.
No primeiro, não foi nem perto dele.

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