sábado, junho 25, 2005

Dos meus amores

João

João foi um amor estranho. Um amor que abandonei com certo medo. Um amor que eu fui embora, para não me machucar. Acho que eu tive até razão de ir-me embora. Mas não é isso que vem ao caso. Eu tenho péssima memória, mas lembro de boas coisas desse amor. Lembro de Truffaut e Lynch. História Real. Correr da chuva no parque. Meu mau humor ao estar embaixo da chuva. Ele me dizendo que ficava bem bonita com o cabelo molhado, embaixo do toldo do parquinho. Foi um amor tão rápido. Às vezes, mas só às vezes, acho que não deveria ter fugido. Mas o tempo passou, muito tempo. E hoje, a gente mal se esbarra em festinhas surreais em subsolos sujos na cidade. É uma pena que tenhamos nos perdido, mas, para falar a verdade, nem sinto tanta falta. João foi um amor gostoso, de pouco tempo. Singelo. Foi um poema bonito pendurado na minha parede.


Eduardo

Eduardo foi um amor longo. E complicado. Truncado, bem truncado, no começo. Uma história dentro de outra história. Por minha parte. Um amor bem triste, uma distância enorme entre seres. Porém, foi um amor duradouro. Um amor compartilhado. Um apoio atrás de outro. Conquistas mútuas. Foi um amor tranquilo, algumas vezes. Cinema, música, videogame. Coisa de gente caseira. Muitas lágrimas de cinema seguradas nos filmes de guerra. Programas leves, nada de muita poesia escrita. Foi um amor compartilhado pelo olhar e pelas mãos. O andar cada dia um passo. Até que tropeçamos e o tempo fez o trabalho de desgastar. Ainda tentamos nos reeguer, mas os tropeços foram só acontecendo cada vez mais próximos. Até que um de nós caiu, e não quis levantar. Foi um amor longo,bom, cheio de fases, cheio de altruísmo. E olhe que eu não sou nada altruísta. Foram anos de fotos de nós dois no meu mural.


Guilherme

Guilherme foi meu amor mais recente. Foi um amor relativamente curto no tempo, mas intenso no brilho. Foi pouco cinema, mas muita, muita música. Foi samba do mais triste ao mais alegre. Foi de Cartola à Dicró. Foi amor de centro urbano e de periferia. Foi amor de submundo e de torre de tevê. Foi amor de inteligências complementares, de risos soltos no meio da noite. Foi um amor que era para sempre, um amor Cecília, Clarice e Adélia. Guilherme foi um amor de Câmara dos Deputados. De Porto Alegre. De Ceilândia, Cruzeiro, Asa Norte e Asa Sul. Guilherme foi um amor flutuante, saudoso, espalhado para o mundo em gritos poéticos. Guilherme foi e-mails, telefonemas, mensagens, carinhos. Foi o não me conter em mim e transbordar. E ter meu transbordar amparado pelo carinho, e pelo espelho. Pelo chuveiro frio. Pelo pão com ovo mexido. Foi o vinho tinto em noite fria, absurdamente fria. Foi as pulseiras que retirou, os colares que eu usei. O meu pé machucado e olhar de dó ao vê-lo com todo aquele esparadrapo. Guilherme foi cerveja em dia de calor. Poesia declarada para todos os cantos do mundo.

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