quinta-feira, junho 30, 2005

Minha poesia nunca é jogada fora
Mesmo que os papéis não existam mais.

A memória não é feita de bloquinhos rosas, ou de papéis banais. Minha memória é feita de cheiros que estão impregnados nos meus dedos, de cores que sei que não sairão de minhas roupas, de doses de bebidas quentes, de uma vida que passou e está cravada em mim. Agora, sei que não importa do que me desfaça, as lembranças sempre estarão presentes. Só me resta não acordar nas madrugadas com os olhos cheios de lágrimas, e conseguir levantar sem pensar. Resta não ficar angustiada ao ouvir nomes e vozes, ao ver passos e jeitos de andar. Porque esquecer, ah! esquecer, já desisti. Não importa quantas vezes eu remova as fotos dos meus arquivos, quantas vezes retire sua mão do meu ombro ou em quantas frestas eu não enxergue. O café da manhã na padaria, o filme bom no Cine Brasília, o vinho tinto, o parque, o aniversário, a Adélia, o caminho longo até minha casa nas manhãs de sexta, o copo d'água em cima da tevê, o origami, Porto Alegre, a rodoviária, o bar às 3 da tarde todos os dias... nada disso está guardado em papéis e blocos de anotação. Nada disto está cravado em árvores - vivas ou mortas. A minha memória não é jogada fora, pois as coisas já estão em mim.

Só me resta fazê-las não doer.

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