terça-feira, março 19, 2002

Deitada, estica o braço o máximo que pode para alcançar o criado-mudo. Claro que as divagações sobre o nome do móvel já ficaram pra trás. As discussões filosóficas que não são pura divagação doentia de criatura cult contemporânea ficaram pra trás... assim como a disposição pra sair de segunda a segunda, assim como a vontade de viver.
Só saía todo dia porque os amigos a obrigavam. Fazia sexo barato, porque se envolver com os caras, e ela é hetero, é doloroso demais. E acaba se tornando entediante depois de algum tempo, e sofrimento demais só traz chateação... ah, compromissos pra quê?! Sexo casual é mais interessante...
Tudo ficou pra trás. Paciência, opiniões, questionamento, política... tá tudo lá atrás, em algum momento bem remoto.
Remonta a sua juventude despedaçada em cima de um pedaço de papel, depedaçada com a falta de vontade de ser, porque a idade ainda é a mesma.
Só se vê distante de si e de todos que estão sempre ali, como há o copo a alguns centímetros agonizantes de distância, aonde não se chega a ele, mas não se fica longe. E o líquido que esquenta tudo que está ali dentro é o melhor do dia.. que será uma merda de dia, como todos.
Domingão chuvoso. Nada de fotos, nada de filmes de rua.
Só o tédio e o copo longíquo que quase desiste de pegar.

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